Por Bárbara Matias
Uma reflexão sobre o luto vivido nos últimos dias pelas mortes de jovens de Viçosa
Se pensarmos bem em nossa vida e fizéssemos um exercício de escrever palavras que descrevam nossos sentimentos em relação aos que estão mais próximos, às situações que mais nos marcaram, às mais fortes sensações vivenciadas, quais as palavras que você escolheria? Se fechasse os olhos por um minuto revendo tudo o que você já viveu quem seriam os personagens principais da sua história? E se em um flash você pudesse rever o que já passou e imaginar o que vem pela frente, você repensaria suas escolhas?
Todos nós precisamos revirar a nós mesmos buscando o que tem de mais essencial em nós que nos faz ser quem somos, viver como vivemos e escolher esses passos que temos trilhado. Sempre temos escolha. Podemos sempre continuar, aceitar ou mudar, transformar. Hoje estamos em luto coletivo e não há melhor oportunidade de analisar a própria vida que diante de uma situação de perda. A vida, de repente tão mais frágil, se encurta, podemos ver com nossos próprios olhos que nossa estrutura se fragiliza.
Mas afinal o que significa o luto? Luto se caracteriza por uma série de reações diante de um sofrimento de perda de alguém. O poeta da tradição judaica já dizia que: “É melhor ir a uma casa de luto do que ir a uma casa onde há festa, pois onde a luto lembramos que um dia também vamos morrer. E os vivos nunca devem esquecer isso. A tristeza é melhor do que o riso, pois a tristeza faz o rosto ficar abatido, mas torna o coração compreensivo. (Ecl. 7: 2, 3)”. Nosso luto é pela violência contra os mais fracos, pela violência gratuita, sem justificativa, pela morte de jovens que vão cedo demais. Separamos esse dia para pensar o que tudo isso tem a ver conosco e como isso nos afeta.
Rubem Alves já disse em um conto que a morte não é um problema em si, o problema é deixar de viver, porque a vida é boa. Ele conta que um dia às 6h da manhã sua filha o acordou. Ela tinha três anos. E fez então a pergunta que ele nunca imaginara: “Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?”. Ele ficou mudo. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em seu socorro: “Não chore, que eu vou te abraçar…” Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.
A morte, a dor, a tristeza e o luto tem a capacidade de mudar as pessoas. Podemos nos tornar mais sensíveis aos que amamos e mais presentes. A vida deixa de passar à nossa vista sem fazer sentido, passamos a valorizar o que nos importa REALMENTE, sendo protagonistas de nossa história. Nossa pequena história. E nossa grande história.
Não precisamos passar por um luto de alguém que muito amamos para analisarmos a nós mesmos. Que as pessoas que passaram na sua mente no exercício proposto sejam realmente amadas por você, enquanto é tempo. Que o amor, a amizade verdadeira, a lealdade e a fé em dias melhores sempre consumam mais o nosso tempo que o remorso que o dia de luto pode trazer. O luto pela nossa cidade exige de nós esperança e ação. Participe, valorize, aprenda, curta os bons dias, ame…
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